Em meus versos teu nome celebrado,
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês Ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo das ambições recreias.
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quanto em chamas fecunda, brota em ouro.
Noite produz a imagem do segredo;
Em que apenas distingue o próprio medo
Do feio assombro a hórrida figura;
Zéfiro brando em fúnebre arvoredo,
Sentado sobre o tosco de um penedo
Chorava Fido a sua desventura.
Um rio fecundou, donde manava
D’ânsia mortal a cópia derretida:
Abalava-se a penha comovida;
Fido, estátua da dor, se congelava.
Se este meus sentidíssimos gemidos
La no teu peito, lá nos teus ouvidos
Achar pudessem brando acolhimento;
Meus votos tributara agradecidos!
Por séculos de males bem sofridos
Trocara todo o meu contentamento.
De seu rigor não há correspondência
Para os doces afetos de ternura;
Que é fazer mais soberba a formosura
Adorar o rigor da resistência.
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico, e fino.
Os meus fieis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;
E o que té agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.
•
Cláudio Manuel da Costa nasceu a 5 de
junho de 1729 na zona rural da cidade de Mariana, Minas Gerais. Iniciou seus
primeiros estudos em Vila Rica, Ouro Preto; depois seguiu para o Colégio dos
Jesuítas no Rio de Janeiro e daí para Coimbra, onde se forma em Direito. No regresso
ao Brasil se instala em Vila Rica e divide-se nas atividades da advocacia, da administração
e da agricultura. Entre um e outro ofício dedica-se também à literatura, ofício
que principia ainda nos tempos de Portugal com a publicação de seus primeiros
poemas nos opúsculos Munúsculo métrico, Labirinto de amor e um Epicédio
consagrado à memória de Frei Gaspar da Encarnação. São textos marcados pela
forma do barroco seiscentista. Mais adiante adota os protocolos da Arcádia Lusitana; boa parte do escreveu a partir de então foi reunido em Obras,
de 1768. Ainda tentou compor o ambicioso poema épico Vila Rica, versão só
dada a conhecer postumamente, em 1839. Cláudio Manuel suicidou-se a 4 de
julho de 1789, na cela onde estava preso para o interrogatório no caso da
Inconfidência.
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