terça-feira, 1 de junho de 2010

Três sonetos de Basílio da Gama




XXVI

A nua Vênus, a formosa Flora;
Diana, e as caçadoras Companheiras;
Do prado as pastorinhas lisonjeiras;
Do mar a Ninfa, por que Ácis chora.
 
Não são tão belas, nem tão bela Aurora,
Afugentando as sombras derradeiras,
Nem tão belo um navio com bandeiras
Empavesado pelo Tejo fora.
 
Iris de roupas verdes, e amarelas,
Paixões, que ostentam a beleza sua.
Em fundo azul vivíssimas estrelas:
No Céu sereno a prateada Lua,
E outras coisas, que parecem belas,
Não são tão belas, como a beleza tua.
 
 
XXVII
 
Ulisses vendo terras diferentes
Sem jamais guardar fé, nem lealdade;
Ariadna por Teseu na flor da idade
Abandonada a Tigres, e a Serpentes;
 
Dido vendo de longe as Naus rompentes
Morta mais que da dor da saudade,
São coisas que inventou a Antiguidade
Para entreter ouvidos inocentes.
 
Fingiu que os homens tinham peitos duros,
Como fingiu a Ilha enganadora,
Longes Viagens, imperfeitos Muros:
 
Não digo que não haja u’a Pastora,
Que nos dê tempo de lhe ser perjuros,
Mas essa Fênix em que Arábia mora?
 
 
XXVIII
 
Bárbara, iníqua terra, ingrata, e injusta,
São estes os fantásticos agoiros
De quando t’adornei a frente adusta
De verdes murtas, de sagrados loiros?
 
Já me aparto de ti, já me não custa
Deixar-te, e os teus fantásticos tesoiros,
Vou ver da minha Arcádia a frente augusta,
Os olhos belos, e os cabelos loiros.
 
Com toda a ação dos braços me convida
A grande Roma, e a Pátria me desterra
E rende por favor deixar-me a vida:
 
Pagaste meu amor com dura guerra,
És indigna de mim, desconhecida,
Bárbara, ingrata, injusta, iníqua terra.
 
 
Basílio da Gama nasceu em São José do Rio das Mortes, Minas Gerais a 8 de abril de 1741. Importante nome do arcadismo, ingressa na Arcádia Romana graças às boas relações estabelecidas com o clero jesuítico português e ao poeta Michel Giuseppe Morei. Essa proximidade com os jesuítas, entretanto, não lhe valeu apenas louros; é por causa dela que foi detido em Lisboa, escapando da prisão depois de prometer cumprir degredo em Angola, o que, evidentemente, não se cumpriu e escapou, graças aos laços que começou por estabelecer com o marquês de Pombal. Destacou-se na literatura brasileira pela escrita de O Uraguai (1769), mas também escreveu poemas esparsos, como os sonetos aqui destacados. Morreu em Lisboa a 31 de julho de 1795.
 
 

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