XXVI
A nua Vênus, a formosa Flora;
Diana, e as caçadoras Companheiras;
Do prado as pastorinhas lisonjeiras;
Do mar a Ninfa, por que Ácis chora.
Afugentando as sombras derradeiras,
Nem tão belo um navio com bandeiras
Empavesado pelo Tejo fora.
Paixões, que ostentam a beleza sua.
Em fundo azul vivíssimas estrelas:
No Céu sereno a prateada Lua,
E outras coisas, que parecem belas,
Não são tão belas, como a beleza tua.
Sem jamais guardar fé, nem lealdade;
Ariadna por Teseu na flor da idade
Abandonada a Tigres, e a Serpentes;
Morta mais que da dor da saudade,
São coisas que inventou a Antiguidade
Para entreter ouvidos inocentes.
Como fingiu a Ilha enganadora,
Longes Viagens, imperfeitos Muros:
Que nos dê tempo de lhe ser perjuros,
Mas essa Fênix em que Arábia mora?
São estes os fantásticos agoiros
De quando t’adornei a frente adusta
De verdes murtas, de sagrados loiros?
Deixar-te, e os teus fantásticos tesoiros,
Vou ver da minha Arcádia a frente augusta,
Os olhos belos, e os cabelos loiros.
A grande Roma, e a Pátria me desterra
E rende por favor deixar-me a vida:
És indigna de mim, desconhecida,
Bárbara, ingrata, injusta, iníqua terra.
•
Basílio da Gama nasceu em São José do
Rio das Mortes, Minas Gerais a 8 de abril de 1741. Importante nome do arcadismo,
ingressa na Arcádia Romana graças às boas relações estabelecidas com o clero jesuítico
português e ao poeta Michel Giuseppe Morei. Essa proximidade com os jesuítas,
entretanto, não lhe valeu apenas louros; é por causa dela que foi detido em
Lisboa, escapando da prisão depois de prometer cumprir degredo em Angola, o que,
evidentemente, não se cumpriu e escapou, graças aos laços que começou por
estabelecer com o marquês de Pombal. Destacou-se na literatura brasileira pela
escrita de O Uraguai (1769), mas também escreveu poemas esparsos, como os
sonetos aqui destacados. Morreu em Lisboa a 31 de julho de 1795.
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