segunda-feira, 31 de maio de 2010

Três poemas de Guilherme Mandaro

 


 
quando começaram a disputar com o céu
o destino da terra
apareceu a dança
quem dançou recebeu a palavra
novos olhos
a possibilidade do silêncio
 
 
*
 
Há coisas que não se pode mais dizer
Há coisas que ficarão por muito tempo caladas
caladas e presentes
como um calafrio num corpo só
distantes do movimento vivo
às vezes as coisas permanecem
como o fogo morto de alguma necessidade
precário o tempo do silêncio necessário
perpétuo o tempo de uma ausência imposta
 
 
*
 
fica abolida a morte
como preocupação futura
terão os versos com a vida
o compromisso cotidiano das imagens
nos recintos
ame-se e nada mais
os espaços ocupem-se com os corpos
e principalmente os corações
senhores dos espaços plenos
ainda que falte pouco
para que as rações acabem
ou o tempo mesmo de fazer as coisas
que continuem rações perpétuas
na medida do homem
e não deixar letra por letra
no final do poema
 
 
Guilherme Mandaro nasceu a 1952 no Rio de Janeiro. Dentre os principais nomes da chamada poesia marginal, Cacaso afirma que a ideia de publicação de poesia em folhetos mimeografados é de Mandaro. Os dois poetas dividiram a cena em atuações do grupo Nuvem cigana que, das várias atividades desenvolvidas, publicava a revista Anima. Tal como outros nomes singulares da sua geração, Ana Cristina Cesar e Torquato Neto, Guilherme Mandaro morreu em 1979 ao pular da janela de seu prédio. Deixou dois livros, Hotel de Deus (1976) e Trem da noite (1979).

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