A PLANTA DO AR
Grand Cayman
Esse tufo que nasce de um salobro
nada,
Polvo invertido, braços para o céu,
Rebento ressequido de palmeira de angra,
Quase ave – de ave quase um escarcéu,
Polvo invertido, braços para o céu,
Rebento ressequido de palmeira de angra,
Quase ave – de ave quase um escarcéu,
É pulmonar ao vento que lhe move
Os tentáculos num meneio traiçoeiro.
A goela do lagarto, absorto com a mosca,
Infla-se, cauta, nesse trêmulo poleiro.
Os tentáculos num meneio traiçoeiro.
A goela do lagarto, absorto com a mosca,
Infla-se, cauta, nesse trêmulo poleiro.
Serras e acúleos do cactus sangram
Leite da terra quando os vão cortar,
Mas este, sem espinhos, não espalha sangue,
Quase nem sombra, só a fala do ar.
Leite da terra quando os vão cortar,
Mas este, sem espinhos, não espalha sangue,
Quase nem sombra, só a fala do ar.
Dínamo angelical! Ventríloquo do
azul!
Enquanto o mar, covil de tubarões, se esgueira
Na praia, que conjuração dos ventos urde
O furacão – a apoteose derradeira!
Enquanto o mar, covil de tubarões, se esgueira
Na praia, que conjuração dos ventos urde
O furacão – a apoteose derradeira!
Ó ILHA DO CARIBE!
A tarântula trôpega diante de um
lírio,
Por entre os pés dos mortos, postos na areia branca
À beira dos corais – caranguejos cabriolas
Em zigzag na estrada (que saqueiam, subvertem
E anagramatizam teu nome) – Não, nada aqui,
Sob o torpor que um eucalipto alteia
Em sombras rotas – chora.
Por entre os pés dos mortos, postos na areia branca
À beira dos corais – caranguejos cabriolas
Em zigzag na estrada (que saqueiam, subvertem
E anagramatizam teu nome) – Não, nada aqui,
Sob o torpor que um eucalipto alteia
Em sombras rotas – chora.
Mas, e se eu contar
Os dons de nácar dessas tropicais necroses,
Colares brutos, conchas, ao redor das tumbas
Crenadas com cuidado. Então
Os dons de nácar dessas tropicais necroses,
Colares brutos, conchas, ao redor das tumbas
Crenadas com cuidado. Então
À areia branca hei de dizer um
nome, fértil
Ainda que em língua estranha. Nomes de árvores, de flores
Negam a frágil cripta funerária. Devagar
O vento que se algema numa grande morte
Se dobra e se retrai. Sílabas pedem ar.
Ainda que em língua estranha. Nomes de árvores, de flores
Negam a frágil cripta funerária. Devagar
O vento que se algema numa grande morte
Se dobra e se retrai. Sílabas pedem ar.
Mas onde o Capitão dos dobrões
desta ilha
Sem cercas? Quem, salvo esses escribas caranguejos,
Patrulha as virilhas secas dos abrolhos?
Que homem, ou o Que
É o Fiscal do bolor para a tocaia dos sentidos?
A álgebra do Caribe enreda as lentes tórridas dos olhos!
Sem cercas? Quem, salvo esses escribas caranguejos,
Patrulha as virilhas secas dos abrolhos?
Que homem, ou o Que
É o Fiscal do bolor para a tocaia dos sentidos?
A álgebra do Caribe enreda as lentes tórridas dos olhos!
Sob a poinciana, ao sol ou ao
sol-posto,
Que os grãos de fogo em coágulos de luz
Filtrem o meu fantasma, branco e preto no ar,
Até encontrar o cômico anfitrião do azul.
Que os grãos de fogo em coágulos de luz
Filtrem o meu fantasma, branco e preto no ar,
Até encontrar o cômico anfitrião do azul.
Que o peregrino não se veja mais
Toda manhã no cais pregado como as grandes tartarugas
Para a lenta evisceração, os olhos duros de salmoura;
– Presas, de costa: que trovão em sua luta!
Bicos em cãibra à espera da maré vindoura!
Toda manhã no cais pregado como as grandes tartarugas
Para a lenta evisceração, os olhos duros de salmoura;
– Presas, de costa: que trovão em sua luta!
Bicos em cãibra à espera da maré vindoura!
Lixo do furacão, arrastado em seu
fluxo,
Congelo-me entre ocasos, em cetim e ócio.
Dá-me a concha, Satã, – carbônico amuleto,
Selo de sal que o sol explode no oceano.
Congelo-me entre ocasos, em cetim e ócio.
Dá-me a concha, Satã, – carbônico amuleto,
Selo de sal que o sol explode no oceano.
JARDIM ABSTRATO
A maçã no seu galho é tudo o que ela quer, ―
Suspensão cintilante, mímica do sol.
O ramo arrebatou-lhe o sopro, e sua voz,
Mudamente cingida aos declives e alturas
De ramo a ramo acima, turva-lhe a visão,
Prisioneira da árvore e seus dedos verdes.
Suspensão cintilante, mímica do sol.
O ramo arrebatou-lhe o sopro, e sua voz,
Mudamente cingida aos declives e alturas
De ramo a ramo acima, turva-lhe a visão,
Prisioneira da árvore e seus dedos verdes.
E ela se sonha enfim a própria
árvore.
O vento, que a possui, tece-lhe as veias jovens,
Retendo-a para o céu e seu rápido azul,
E afoga a febre de suas mãos no sol.
Ela não tem memória, medo ou esperança
Além da grama e sombras a seus pés.
O vento, que a possui, tece-lhe as veias jovens,
Retendo-a para o céu e seu rápido azul,
E afoga a febre de suas mãos no sol.
Ela não tem memória, medo ou esperança
Além da grama e sombras a seus pés.
* Traduções de Augusto de Campos
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