Viver sempre
também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
*
Dá-me a tua
mão.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.
•
José Gomes Ferreira nasceu em 9 de junho de 1900, no Porto. Escritor,
poeta e ficcionista, formou-se em Direito em 1924,
tendo sido cônsul na Noruega entre 1925 e 1929. Após o seu regresso a Portugal,
enveredou pela carreira jornalística. Foi colaborador de vários jornais e
revistas, tais como a Presença, a Seara Nova e Gazeta Musical e Todas as
Artes. Esteve ligado ao grupo do Novo Cancioneiro, sendo geral o reconhecimento
das afinidades entre a sua obra e o neo-realismo. Autor de obra vasta, de sua poesia se destacam títulos com Lírios do monte, o primeiro do gênero, apresentado precocemente em 1918, Longe (1921) e Poeta militante 1, 2 e 3 (1978). Morreu no dia 8 de fevereiro de 1985.
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