Canto 1: Fundação da ilha
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Um barão assinalado
sem brasão, sem gume e fama
cumpre apenas o seu fado:
amar, louvar sua dama,
dia e noite navegar,
que é de aquém e de além-mar
a ilha que busca e amor que ama.
Nobre apenas de memórias,
vai lembrado de seus dias,
dias que são as histórias,
histórias que são porfias
de passados e futuros,
naufrágios e outros apuros,
descobertas e alegrias.
Alegrias e descobertas
ou mesmo achadas, lá vão
a todas as naus alertas
de vária mastreação,
mastros que apontam caminhos
a países de outros vinhos.
Esta é a ébria embarcação.
Barão ébrio, mas barão,
de manchas condecorado;
entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado
a peixes, homens e aves,
bocas e bicos, com chaves,
e ele sem chaves na mão.
Canto IV: As aparições
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Um monstro flui nesse poema
feito de úmido sal-gema.
A abóbada estreita
mana a loucura cotidiana.
Pra me salvar da loucura
como sal-gema. Eis a cura.
O ar imenso amadurece,
a água nasce, a pedra cresce.
Mas desde quando esse rio
corre no leito vazio?
Vede que arrasta cabeças,
frontes sumidas, espessas.
E são minhas as medusas,
cabeças de estranhas musas.
Mas nem tristeza e alegria
cindem a noite, o dia.
Se vós não tendes sal-gema,
não entreis nesse poema.
•
Jorge de Lima nasceu em 1893, em União dos Palmares, Alagoas. Médico, exerce e a profissão em paralelo ao ofício de escritor e de uma atividade política que o obrigará a transferir-se para o Rio de Janeiro, em 1930. Em Maceió, convive com um grupo do qual faziam parte José Lins do Rego, Raquel de Queirós e Graciliano Ramos. Seu consultório carioca será um importante ponto de encontro entre artistas e intelectuais. Expressa em uma voz cheia de imagens e sonoridades marcantes, sua obra multifacetada está intimamente ligada à afirmação da estética modernista. Dentre os livros que publicou, podemos destacar Invenção de Orfeu, Poemas negros e Calunga. Morreu em 1953.
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