Languidez
Tardes de minha terra, doce encanto,
Tardes duma pureza, d'açucenas,
Tardes de sonho, as tardes de novenas,
Tardes de Portugal, as tardes d'Anto,
Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!...
Horas bemditas, leves como penas,
Horas de fumo e cinza, horas serenas
Minhas horas de dor em que eu sou santo!
Fecho as pálpebras roxas, quási pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...
E a minha bôca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonhos pelo ar...
Poetas
Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.
Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!
Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.
E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
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Florbela
Espanca nasceu em Vila Viçosa, Alentejo, em 8 de dezembro de 1894. A produções
poética dos anos 1915 a 1917 foi escrita para um único livro que chamou de Trocando
olhares; desta obra, uma parte daria origem a O livro d’ele, título que não foi
se concretizar. De poesia publicou Livro de mágoas (1919), Livro de Soror
Saudade (1923), Reliquiae (1931), Charneca em flor (1929) e Dominó negro (1931).
Também escreveu prosa. Florbela suicidou-se no dia do seu aniversário em 1890,
em Matosinhos.
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