QUE É POESIA
A fundação
do ser x a palavra
Poesia és tu
Tudo o que
se move é poesia
O que não muda
de lugar é prosa
Mas que é
poesia
Tudo o que
nos une é poesia
Só a prosa
pode nos separar
Sim mas que
é poesia
Vida em
palavras
Um enigma
que se nega a ser decifrado x os
professores
Um pouco de
verdade e uma aspirina
Antipoesia
és tu
O HOMEM IMAGINÁRIO
O homem
imaginário
vive numa
mansão imaginária
rodeada de
árvores imaginarias
à beira de
um rio imaginário
Das paredes
que são imaginários
pendem antigos
quadros imaginários
irreparáveis
rachaduras imaginárias
que
representa feitos imaginários
acontecidos
em mundos imaginários
em lugares e
tempos imaginários
Todas as
tardes tardes imaginárias
sobe as escadas
imaginárias
e se põe por
sobre a varanda imaginária
a olhar a
paisagem imaginária
que consiste
num vale imaginário
rodeado por colinas
imaginárias
Sombras
imaginárias
vêm pelo caminho
imaginário
entoando canções
imaginárias
à morte do
sol imaginário
E nas noites
de lua imaginária
sonha com a mulher
imaginária
que lhe deu
seu amor imaginário
volta a
sentir essa mesma dor
esse mesmo
prazer imaginário
e volta a palpitar
o coração do
homem imaginário
* Traduções de Pedro Fernandes de O. Neto
A mulher impossível,
a mulher de dois metros de estatura,
a senhora de mármore de Carrara
que não fuma nem bebe,
a mulher que não fica nua
por temor de engravidar
a vestal intocável
que não quer ser mãe de família,
a mulher que respira pela boca,
a mulher que caminha
virgem para a câmara nupcial
porém que reage como homem,
a que se desnudou por simpatia
por encantar-se com musica clássica,
a ruiva que ficou de bruços,
a que só se entrega por amor,
a donzela que enxerga com um só olho,
a que apenas se deixa possuir
no divã, à borda do abismo,
a que odeia os órgãos sexuais,
a que casa somente com um cão,
a mulher que se faz de adormecida
(o marido a ilumina com um fósforo),
a mulher que se entrega porque sim
porque a solidão, porque o esquecimento...
a que chegou moça à velhice,
a professora míope,
a secretária de óculos escuros,
a senhorita pálida de lentes
(ela não quer nada com o falo),
todas estas valkírias
todas estas matronas respeitáveis
com seus lábios maiores ou menores
terminarão tirando-me do juízo.
* Tradução de Albino M.
•
Nicanor Parra nasceu
em San Fabián, em 5 de setembro de 1914. Em 1933, ingressou no Instituto Pedagógico da
Universidade do Chile, onde se formou em Matemática e Física. Em 1943, embarcou
para os Estados Unidos para fazer uma especialização no Instituto de Educação
Internacional. Revolucionou
a literatura com sua antipoesia, que mudou a forma de conceber a literatura e a
arte. Escreveu, dentre outras obras Hojas de Parra, Poemas y antipoemas e Versos de salón. Sua última obra publicada foi Antiprosas, em
2011. O poeta morreu no dia 23 de janeiro de 2018.
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