segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Três poemas de Bruna Beber



o que dói primeiro

todo urubu titia gritava
urubu urubu sua casa
tá pegando fogo

todo estrondo na rua
papai dizia eita porra
aposto qué bujão de gás

todo avião vovó acenava
é seu tio! Desquentrou preronáutica
num tenho mais sossego

temi e ainda temo toda espécie
inflamável lamentei tanto urubu
desabrigado desejei o fim
da força aérea brasileira

só custei a entender mamãe
e o que queria dizer com seu irmão
não vem mais brincar com você
papai do céu levou.


música no parque

dorotilde
nunca vimos
convulsa

toda vida
de sorriso
no portão

perfume para três
esquinas botava
zonza as alergias

e eu pirraça
de emoções
nas pernas

pensava jamais
fora mordida
nos lábios

e eu bandeirinha
de coração
nos olhos

a guardaria
até perder
os dentes


8. o romantismo

chumbo que respiro
minha saudade
te apodrece

e te renova
à medida que me lanço
noutra direção

tanto mofo
no que calo
por ti

vinagre
de dores ardentes
nos olhos

com fervoroso credo
em tua morte

minha vida.

De Rua da padaria. São Paulo: Record, 2013.

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