Mais beijos
Devagar...
outro beijo...
outro ainda...
O teu olhar,
misterioso e lento,
veio desgrenhar
a cálida
tempestade
que me
desvaira o pensamento!
Mais
beijos!...
Deixa que
eu, endoidecida,
incendeie a
tua boca
e domine a
tua vida!
Sim, amor...
deixa que se
alongue mais
este momento
breve!...
- que o meu
desejo subindo
solte a
rubra asa
e nos leve!
Maio, 1925.
Fim
Asa negra
que esvoaça...
- Negos dias
ensombrados!
Roubaram-me
toda a graça
aos meus
olhos macerados.
Nevrótica,
fim de raça...
Os meus
nervos delicados
vão sucumbindo
à desgraça
dos tristes
degenerados.
Trago nos
nervos a morte!
sou uma
sombra em recorte
de tristeza
e de ruína...
Uivou dentro
de mim a dor...
só lhe perco
o som e a cor
em orgias de
morfina!
Porquê?
Que tens
dentro de ti
estranho obreiro?
Que silêncio
angustioso
traduzem
os teus
Crepúsculos doentes
- Bizarro
caminheiro
do infortúnio!
Onde foste
ouvir a dor
dos teus
Poentes?
Que rumor
imenso,
que tragédia
contas
em cada cor?
Que grãos de
incenso,
queimas tu,
em cada Alvor?
Ó romeiro da
desgraça!
Predestinado
sonhador
de noites
sem estrelas!
Trágico e
errante...
Porque
pintas tu sempre um Céu distante,
nas mortificadas
cores
das tuas
telas?
Julho – Céu Nublado
1922
O outro
Vão para ti,
amor de algum dia,
os gritos
rubros da minha alma em sangue;
vives em
mim, corres-me nas veias,
andas a vibrar
na minha
carne exangue!
Mas, quando
nos teus olhos poisa o meu olhar
enoitado e
triste,
vejo-te
diferente...
Aquele que
tu eras, e que eu amo ainda,
perdeu-se de
ti
... e só em
mim existe!
Agosto, 1924
Quando, não
sei...
Há de chegar
o dia
em que a
minha tristeza há de acabar...
Tudo
finda... renasce e recomeça...
E esta
tristeza há de ter fim!
E então minha
alegria
há de
voltar!...
Só tenho
medo
que, quando
ela regressar
eu esteja
tão cansada de viver,
que não
chegue a festejar
esta ânsia
enorme de vencer!...
Sim, porque
da tristeza sempre fica
um jeito
desolado...
Mas não! Eu
hei de ser alegre,
e endoidecer
cá dentro
toda a
amargura do passado!
Mas não
tardes
a realidade
do meu
sonho!....
Porque há quem
morra de saudade
e dor!
E eu não sei
se terei vida
que chegue
se a tua
demora
for mais
longa, meu amor!
Dezembro,
1925
Nenhum comentário:
Postar um comentário