AGARREI NO AR
Agarrei no
ar um véu
esmaecido de azul,
igual ao azul do céu
iluminado pela lua.
esmaecido de azul,
igual ao azul do céu
iluminado pela lua.
Eu passo a
vida a sonhar
iluminado pela lua.
iluminado pela lua.
TEUS OLHOS
Teus olhos,
Honorine, cruzaram oceanos,
longamente tristes, sequiosos,
como flor aberta nas sombras em busca do Sol.
Vieram com o vento e com as ondas,
através dos campos e bosques da beira-mar.
Vieram até mim, estudante triste,
dum país do Sul.
longamente tristes, sequiosos,
como flor aberta nas sombras em busca do Sol.
Vieram com o vento e com as ondas,
através dos campos e bosques da beira-mar.
Vieram até mim, estudante triste,
dum país do Sul.
PRAIA PRESA
Praia presa,
adiantada
no mar, no
longe, no círculo
de coral que
o mar represa.
Praia futura
invocada.
Timor
ressurge das águas,
praia futura
invocada.
AMANHÃ É OUTRO DIA
Andamos à deriva como num pranto de morto
ungido por mãos amigas, renovado
pela saudade e pelo tacto
físico, pela dor nata,
palavrório e facto
que entanto ferem como ortiga
oculta e cardo.
Então é ver como acorrem,
pressurosos, os benquistos
presentes sempre ao festim
da morte, por devoção.
Mas há que tomar destino,
morder o pó respirado,
cegar com amor, com ódio,
a comum face dos vivos.
AMANHÃ É OUTRO DIA
Andamos à deriva como num pranto de morto
ungido por mãos amigas, renovado
pela saudade e pelo tacto
físico, pela dor nata,
palavrório e facto
que entanto ferem como ortiga
oculta e cardo.
Então é ver como acorrem,
pressurosos, os benquistos
presentes sempre ao festim
da morte, por devoção.
Mas há que tomar destino,
morder o pó respirado,
cegar com amor, com ódio,
a comum face dos vivos.
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Ruy Cinatti nasceu a 8 de março de
1915 em Londres. Autor de vasta obra que avança pela poesia, campo de maior
interesse e pelo qual foi reconhecido, pela historiografia, antropologia e agronomia,
além de prosa memorialística. Sua estreia na literatura acontece em 1941 com o
livro Nós não somos deste mundo e das obras de destaque estão O tédio
recompensado, Memória descritiva, Manhã imensa, Corpo-alma
e Tempo da cidade, este último, póstumo. Morreu em Lisboa a 12 de
outubro de 1986. ca
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