DE COMO A TERRA E O HOMEM SE UNEM
Fica a terra, passa o arado,
mas o homem se desgasta;
sangra o campo, pasce o gado,
brota o vento de outro lado
e a semente também brota.
Fica a terra, passa o arado
e o trabalho é o que nos passa,
como nome, como herança;
fica a terra, a noite passa.
Fica a terra, passa o arado,
mas o homem se desgasta;
sangra o campo, pasce o gado,
brota o vento de outro lado
e a semente também brota.
Fica a terra, passa o arado
e o trabalho é o que nos passa,
como nome, como herança;
fica a terra, a noite passa.
A semente nos consome,
mas a terra se desgasta.
2.
Que será do novo homem
sobre a terra que vergasta ?
Sangra a terra, pasce o gado
e o trabalho é o que nos passa.
Sangra a terra, pasce o gado
e o trabalho é o que nos passa.
Vem o sol e cava a terra;
a semente é como espada.
Há uma noite que nos gera
quando a noite é dissipada.
Há uma noite que nos gera
quando a noite é dissipada.
Vem a noite e cava a terra;
vem a noite, é madrugada.
3.
O homem se desgasta,
sopro misturado
ao sopro rijo do arado.
Vai cavando.
ao sopro rijo do arado.
Vai cavando.
Madrugada sai da terra,
como um corpo se entreabre
para o orvalho e para o trigo.
para o orvalho e para o trigo.
O homem vai cavando,
vai cavando a madrugada.
ASSENTADA
Chega a esta
casa
sem prazo ou
contrato.
Faze de
pousada
as salas e
quartos.
Os nossos
arreios
ninguém os desata
com ódio e
receios.
O tempo não
sobe
nas suas
paredes;
secou como
um frio
nos beirais
da sede;
calou-se nos
mapas,
na plácida
aurora,
nos pensos
retratos.
Entra nesta
casa
que é tua e
de todos,
há muito
deixada
aberta aos
assombros.
Entra nesta
casa
tão vasta
que é o mundo,
pequena aos
enganos,
perdida,
encontrada.
Os dias, os
anos
são palmos
de nada.
POEMA DA
DEVASTAÇÃO
Há uma devastação
nas coisas e nos seres,
como se algum vulcão
abrisse as sobrancelhas
e ali, sobre esse chão,
pousassem as inteiras
angústias, solidões,
passados desesperos
e toda a condição
de homem sem soleira,
ventura tão curta,
punição extrema.
Há uma devastação
nas águas e nos seres;
os peixes, com seus viços,
revolvem-se no umbigo
deste vulcão de escamas.
Há uma devastação
nas plantas e nos seres;
o homem recurvado
com a pálpebra nos joelhos.
As lavas soprarão,
enquanto nós vivermos.
Há uma devastação
nas coisas e nos seres,
como se algum vulcão
abrisse as sobrancelhas
e ali, sobre esse chão,
pousassem as inteiras
angústias, solidões,
passados desesperos
e toda a condição
de homem sem soleira,
ventura tão curta,
punição extrema.
Há uma devastação
nas águas e nos seres;
os peixes, com seus viços,
revolvem-se no umbigo
deste vulcão de escamas.
Há uma devastação
nas plantas e nos seres;
o homem recurvado
com a pálpebra nos joelhos.
As lavas soprarão,
enquanto nós vivermos.
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