TESTE DE IGUANA
Animal: figura da velocidade
e da forma – mancha
de luz – que cruzou o caminho:
o passo da iguana e seu
selo na areia: repouso,
repetição do corpo
e o impregnado: a
pegada
como livro de paixões
e de assombro; e espelho: desdobrando
tua voz, igualando-a
com teu próprio desejo
como em algo
como num exercício metonímico:
“o passo da iguana
e seu sistema de indeterminação: forma
ou velocidade?”
Iguana:
teus olhos frios na pedra laranja,
rapidíssimos,
como final de toon
FILHA DO CAPINZAL (UMA CANÇÃO)
A que arranhou o disco da névoa
enquanto todos dormiam em suas roupas
risíveis, era eu.
A que teve um sonho nas gengivas
até que as frutas apagaram suas lembranças
e gravaram sequências, na
noite do paladar – era eu.
Que a lua não venha, agora
que peço. Que os macacos caminhem
de mãos dadas, em santidade.
Por seus relâmpagos os reconhecerás. Verás
o que o encantador não diz.
A que esculpiu seus heróis nas unhas, a que
curou as pedras, era eu.
E a que viu o koala, mantendo relações
com sua mulher, e o trevo de saturno, com suas
dez folhas bruxas, era eu.
Que a peste carregue este caderno.
Que os exploradores não encontrem meus cabelos
SINGLE CACTO II
Tudo volta a
se criar: idêntico
no sigilo
das formas
e na sua
sentença:
nada - um
cacto
com seu
olhar inédito, suas ânsias
de chegar
até aqui.
E nossa
dispersão, diversão
invertida
distanciando-o;
chamando-o sem voz:
"poema"
e sem
traição; mesmo que o
amor repita:
"o cacto
é também um
corpo
abandonado
aqui. O poema
não poderia
salvá-lo
da
dissolução no vazio..."—
UMA BALEIA BRANCA (DESEMBARQUE)
Igual são
seus objetos
conhecidos,
igual
é urna
baleia branca, é
você sentado
entre as rochas
igual são
seus amigos - você
pensa: o dia
foi embora,
as cores, qualquer
coisa que
viu torna-se irrepetível
se agora
"não
era bem aquilo"; e
sempre
o que deseja
ser,
o que anda
no aberto, igual
permanece no
corpo; vive
fora do corpo.—
* Tradução de Carlito Azevedo.
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