NUNCA SEREI VENCIDA
Nunca serei
vencida.
Não o serei
senão à
força de vencer.
Cada
armadilha estendida
fechando-me
cada vez mais
no amor
que acabará
por ser o meu
túmulo,
acabarei a
minha vida numa cela
de vitórias.
Sozinha,
a derrota
encontra chaves,
abre portas.
A morte,
para atingir
o fugitivo,
tem de se
pôr em movimento,
perder essa
fixidez
que nos faz
reconhecer
que ela é o
duro contrário
da vida.
Ela dá-nos o
fim do cisne
atingido em
pleno voo,
de Aquiles
agarrado pelos cabelos
por não
sabermos que sombria Razão.
Como a
mulher asfixiada no vestíbulo
da sua casa
de Pompeia,
a morte não
faz mais do que prolongar
no outro
mundo os corredores
da fuga.
A minha
morte será
de pedra.
Conheço as
passagens,
as curvas,
as
armadilhas,
todas as
minas da Fatalidade.
Não posso
perder-me.
A morte,
para me
matar,
terá
necessidade da minha
cumplicidade.
RECORDAMO-NOS DOS NOSSOS SONHOS
Recordamo-nos
dos nossos sonhos:
não nos
recordamos dos nossos sonos.
Apenas duas
vezes penetrei nesses fundos
atravessados
por correntes
onde os
nossos sonhos
não são mais
do que embarcações
de
realidades submersas.
No outro
dia,
bêbado de
felicidade
como se fica
bêbado de ar
no final de
uma longa corrida,
atirei-me
para a cama,
como um
nadador
que se atira
de costas,
os braços
cruzados:
mergulhei
num mar azul.
Encostado ao
abismo
como uma
nadadora que nada com prancha,
sustentada
pela bóia de oxigénio
dos meus
pulmões cheios de ar,
emergia
desse mar grego
como uma
ilha recém-nascida.
Esta noite,
bêbada de
desgosto,
deixo-me
cair sobre a cama
com os
gestos de uma afogada
que se
abandona:
cedo ao sono
como à asfixia.
As correntes
de recordações persistem
através do
embrutecimento nocturno,
levam-me
para uma espécie de lago Asfáltico.
Não há forma
de mergulhar
nessa água saturada de sais,
amarga como
a secreção das pálpebras.
Flutuo como
a múmia sobre o seu betume,
na apreensão
de um acordar
que será no
máximo uma sobrevivência.
O fluxo,
depois o
refluxo do sono
fazem-me
rebolar contra minha vontade
nessa praia
de cambraia.
A cada
momento,
os meus
joelhos batem um no outro
à tua
lembrança.
O frio
acorda-me,
como se me
tivesse deitado
ao lado de
um morto.
AUSENTE
Ausente,
a tua figura aumenta
a ponto de encher
o universo.
Passas
ao estado fluido
que é o dos fantasmas.
Presente,
ela condensa-se;
atinges as concentrações
dos metais
mais pesados,
do irídio,
do mercúrio.
Morro
com esse peso
quando ele me cai
no coração.
a tua figura aumenta
a ponto de encher
o universo.
Passas
ao estado fluido
que é o dos fantasmas.
Presente,
ela condensa-se;
atinges as concentrações
dos metais
mais pesados,
do irídio,
do mercúrio.
Morro
com esse peso
quando ele me cai
no coração.
* Tradução de Maria da Graça Morais Sarmento
super
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