HORA DO RECREIO
O coração em frangalhos o poeta é
levado a optar entre dois amores.
As duas não pode ser pois ambas não deixariam
uma só é impossível pois há os olhos da outra
e nenhuma é um verso que não é deste poema
Por hoje basta. Amanhã volto a pensar neste problema.
POÉTICA
Alguma
palavra,
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.
Certa forma se conhece nas infinitas,
a fauna guerreira, a lua fria
encrustada na fria atenção.
Onde era nuvem
sabemos a geometria da alma, a vontade
consumida em pó e devaneio.
E recuamos sempre, petrificados,
com a metafísica
nos dentes: o feto
fixado
entre a náusea e o lençol.
Meu poema me contempla horrorizado.
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.
Certa forma se conhece nas infinitas,
a fauna guerreira, a lua fria
encrustada na fria atenção.
Onde era nuvem
sabemos a geometria da alma, a vontade
consumida em pó e devaneio.
E recuamos sempre, petrificados,
com a metafísica
nos dentes: o feto
fixado
entre a náusea e o lençol.
Meu poema me contempla horrorizado.
Rio de Janeiro, 1965.
•
Cacaso nasceu a 13 de março de
1944 em Uberaba, Minas Gerais. Cedo foi morar no Rio de Janeiro, onde viveu o
restante da sua vida. Estudou Filosofia, foi professor na PUC e colaborador
regular de várias revistas e jornais. Foi um dos nomes da chamada geração
mimeógrafo e ganhou destaque na antologia 26 poetas hoje, organizada por
Heloisa Buarque de Hollanda. Publicou o primeiro livro em 1967, A palavra
cerzida. Depois, vieram outros
cinco títulos: Grupo escolar (1974), Beijo na boca e Segunda
classe (1975), Na corda bamba (1978) e Mar de mineiro (1982).
Morreu a 27 de dezembro de 1987.
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