A TUMBA DE
SHELLEY
Como tochas
consumidas junto ao leito de um enfermo,
os delgados
ciprestes rodeiam a laje calcinada:
ali fez seu
trono a pequena coruja
e mostra o
lagarto sua cabeça adornada.
E onde os
cálices das papoulas de lilás se inflamam,
certamente
no silencioso lugar da pirâmide
esconde-se
alguma esfinge da Antiguidade,
guardiã
atenta deste lugar que aos mortos dá paz.
Ah! Doce é
verdadeiramente descansar no seio
da Terra,
mãe suprema do sonho eterno;
e quanto
mais doce é para ti uma tumba
na caverna
azul onde o eco ressoa
ou ali onde
os grandes navios batem na escuridão
contra as
rochas de um penhasco onde batem as bravas ondas.
SANTA DECCA
Os deuses estão
mortos. Já não ofereceremos
coroas de
oliveira a Atena de olhos glaucos!
O filho de
Deméter não recebe o pagamento de nossas
insolências,
e os pastores cantam ao meio-dia sem medo
porque Pã está morto, e não existem amores ocultos
pelas
clareiras do bosque nem nas tocas escusas:
O jovem Hilas
já não busca nas fontes,
o Grande Pã
está morto, e o filho Maria é Rei
mas, talvez
nesta ilha em êxtase
mantida sob
mar, algum deus
mastigando o
amargo fruto da recordação,
permaneça
oculto entre os asfódelos.
Oh Amor, se
assim fosse trabalharíamos prudentemente
fugindo de
sua ira: negá-lo, mas olhar,
as ondas se
agitam: permaneçamos um instante observando.
•
Oscar Wilde nasceu a 16 de outubro
de 1854, em Dublin, Irlanda. Fez seus estudos na Portora Royal School e no Trinity
College, onde se sobressaiu como latinista e helenista. O destaque favoreceu-lhe
bolsa de estudos para o Magdalen College, de Oxford. Depois de Oxford, foi
morar em Londres; convidado, vai aos Estados Unidos e Canadá para uma série de palestras
sobre o movimento estético pensado por ele, o dandismo; abandona suas ideias
quando chega a Paris e entra em contato com o universo criativo local. Anos mais
tarde seu sucesso se mostra como dramaturgo, carreira que será destruída
depois do envolvimento com o jovem Alfred Douglas. Além do teatro, gênero no
qual se destacou, escreveu romance e poesia. Morreu a 30 de novembro de 1900.
* Traduções de Pedro Fernandes
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