DESASTRE
COMO ESTRELA COMOVIDA
Se alguma
coisa tenho para dar-te,
Se alguma
coisa me sobrou da vida:
Selvagem,
mas talvez maior que a arte,
Foi um
desastre como uma estrela comovida.
Era quem
sabe o que eu pedia ao vento
Quando
pulsava o dia como um louco.
Voar, sem
fim, sedento de desfazimento,
Em luz, como
uma estrela, em força, como um soco.
E sobrou-me
esta estrela entre os braços,
Perdida como
uma outra nos espaços.
em seu fogo
me fundo e me refaço
Para arder
outra vez em seu regaço.
E o que
trago da vida e reentrego à vida
— Um
desastre como uma estrela comovida.
CIGARRO
A brasa
silenciosa me consome o cigarro.
Olho-a e me
deixo ir junto, incinerando.
Há um gosto
de fim no acre sabor do sarro
e a fumaça
me enlaça feito um fantasma brando.
Vou lançando
no ar volutas em que esbarro
impulsos de
um querer que se desfaz pairando.
E o cinzeiro
me dá uma náusea de barro
com a tumba
circular das baganas cheirando.
O ameno
suicídio de fumar isolado. . .
A vida a
reduzir-se à chama que caminha
para o
centro de um eu que se vê descentrado.
Me abandono
a fumar, fica tudo afastado.
Vou indo
pelo tempo à hora que avizinha
de enfim não
ter vivido, mas fumado. . .
Nenhum comentário:
Postar um comentário