A FORMA DESEJADA
O que significa "a forma que se deseja?"
Claro, é o aspecto em cuja direção a ânsia caminha,
com o qual deseja proximidade, e que pretende ter e sua morada.
Ainda assim, o que deseja aproxima-se de modo insuficiente
e não se pode colocá-lo sob controle.
Existe a forma que se admira, que se busca,
o que se carrega, não é preciso interromper a vontade
de contemplá-la, a volição não conduz mesmo a lugar algum.
Quando se encontra a forma desejada, e consegue-se ficar
com ela,
obtém-se um desejo que também se torna bagagem.
A imprecisão do desejo tem um aspecto positivo:
pode transformar cada um de nós em outra coisa,
a forma desejada torna-se alta ciência, indicador de caminhos
sequer precisa expressar, promessa de abundância
e tesouro que se concentra em nossas mãos, para que
possamos submetê-lo ao consumo, aquela mão ocupada
de fecundidade,
e força que nasce no mundo para nele depois
desapossar a plenitude e lançar no precipício o arvoredo
primevo.
Aquilo que nos atrai e chama - articula a tentação
e conduz-nos ao bosque que jamais foi o do paraíso
em nome da perfeição ali até o crime acaba justificado
assim é desde o princípio - os outros são postos de lado
para que a nossa verdade seja executada como se fosse
descoberta
ou renunciamos ao mundo para que enxerguemos a beleza
escondida atrás da mente e descartemos as aparências
que já pediam para serem apagadas da lista e trocadas.
Por isso, toda ânsia é vil, ao menos no início
até que surja um novo poder, habitualmente
pior e mais violento que o anterior, e então instaura-se
a possibilidade
e a forma que nos traduz para outra língua.
Arrancamos as raízes da floresta virgem e aproximamo-nos
daquilo
que volteia como pássaro acima do sol poente
depois se aninha sobre a árvore sagrada e doura
a forma depositada no tronco e na ramagem-que-jamais-murcha.
•
Miódrag Pávlovitch
nasceu em 1928. Médico de formação, é contista, dramaturgo, ensaísta e um dos
nomes mais importantes da poesia sérvia contemporânea. É autor, dentre outras
obras, de 87 poemas (1952) e Coluna de memória (1953).
* Tradução de Aleksandar Jovanović
Grande poeta!
ResponderExcluir