A ÚLTIMA VISÃO DE EOGHAN RUA Ó SÚILLEABHÁIN
A vaca da manhã jorrou
névoa-leite em cada vale
e o ruído de pés veio
dos lados alvos das colinas.
Vi como fantasmas
meus companheiros
e em vez das costumeiras pás
tinham rosas em suas espáduas.
*
Eu digo adeus ao verso inglês,
que achei, por certo, em rede inglesa:
meu Lorca estendendo seus braços
a fim de amar a beleza das balas,
Pasternak, que sobreviveu a Stálin
e morreu devido a menores bestas;
a todos os poetas que amei,
de Wyatt a Robert Browning;
ao Padre Hopkins na tumba sempre cheia
de gente, e ao nosso bicho-papão Yeats,
que nos impôs o exílio
em ilhas de maus versos.
Entre os meus amigos vivos
não há poeta que eu não ame,
ainda que alguns escrevam
com seus corações tão acres;
eles são uma arte, nossas muitas artes.
Poetas que prosseguem
não fazem paz nem pacto.
O ato da poesia
É rebelde de fato
*
Não é nova esta estrada,
nem coisas novas eu forjo.
Não pode ser retirada
das mentes aspirador-de-pó
a ideia de servir a reis mortos.
Não sou novo em nada.
Nem uma boca só eu sou
tentando ver se cava
um nicho para a cultura
no clero-conturbado sul.
Mas não verei, calado,
a queda dos grandes:
os que andam em trapos
pelas cidades, errantes
tendo no inglês um preciso pecado,
língua pra vender porcos no mercado.
Fiz minha escolha e parto
com mínimo choro.
Vim com minha voz parca
cortejar a língua do meu povo
* Traduções de Marcelo Tápia
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