segunda-feira, 11 de junho de 2018

Dois poemas de Blanca Varela




SEGREDO DE FAMÍLIA

Sonhei com um cão
com um cão esfolado
seu corpo cantava rubro silvava
perguntei ao outro
ao que apaga a luz do açougueiro
que foi que aconteceu
por que estamos às escuras

é um sonho estás só
não há outro
a luz não existe
tu és o cão tu és a flor que late
afia docemente tua língua
tua doce negra língua de quatro patas

a pele do homem queima com o sonho
arde desaparece a pele humana
só a rubra polpa do cão é limpa
a verdadeira luz habita sua remela
tu és o cão
tu és o desolado cão de cada noite
sonha contigo mesma e basta


ASSIM DEVE SER

assim deve ser o rosto de deus
o céu raivosamente cruzado
pelas nuvens cinzas     violetas e alaranjadas
e sua voz
o mar de baixo
dizendo sempre o mesmo
tão monótono
como o primeiro
e o último dia

Blanca Varela nasceu em Lima no dia 10 de agosto de 1926 e morreu em 12 de março de 2009. Seu envolvimento coma literatura começou na Universidade Nacional Mayor de San Marcos, onde cursou Letras e Educação. Colaborou com periódicos como Las Moradas, quando conheceu Octávio Paz, encontro que marcou e muito sua vida literária. O nome do poeta mexicano ainda voltaria a cintilar na sua biografia quando, em 2001, recebeu o Prêmio Octávio Paz de Poesia e Ensaio. Seu primeiro livro foi publicado em 1959 – Ese puerto existe; escreveu ainda Luz de día (1963), Valses y otras confesiones (1971), entre outros.

* Traduções de Antonio Miranda.

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