SEGREDO DE FAMÍLIA
Sonhei com
um cão
com um cão
esfolado
seu corpo
cantava rubro silvava
perguntei ao
outro
ao que apaga
a luz do açougueiro
que foi que
aconteceu
por que
estamos às escuras
é um sonho
estás só
não há outro
a luz não
existe
tu és o cão
tu és a flor que late
afia
docemente tua língua
tua doce
negra língua de quatro patas
a pele do
homem queima com o sonho
arde
desaparece a pele humana
só a rubra
polpa do cão é limpa
a verdadeira
luz habita sua remela
tu és o cão
tu és o
desolado cão de cada noite
sonha
contigo mesma e basta
ASSIM DEVE SER
assim deve
ser o rosto de deus
o céu raivosamente cruzado
pelas nuvens cinzas violetas e alaranjadas
e sua voz
o mar de baixo
dizendo sempre o mesmo
tão monótono
como o primeiro
e o último dia
o céu raivosamente cruzado
pelas nuvens cinzas violetas e alaranjadas
e sua voz
o mar de baixo
dizendo sempre o mesmo
tão monótono
como o primeiro
e o último dia
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Blanca
Varela nasceu em Lima no dia 10 de agosto de 1926 e morreu em 12 de março de
2009. Seu envolvimento coma literatura começou na Universidade Nacional Mayor
de San Marcos, onde cursou Letras e Educação. Colaborou com periódicos como Las Moradas, quando conheceu Octávio
Paz, encontro que marcou e muito sua vida literária. O nome do poeta mexicano
ainda voltaria a cintilar na sua biografia quando, em 2001, recebeu o Prêmio Octávio
Paz de Poesia e Ensaio. Seu primeiro livro foi publicado em 1959 – Ese puerto existe; escreveu ainda Luz de día (1963), Valses y otras confesiones (1971), entre outros.
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