RUÍNAS
HORIZONTAIS
1.
a casa
é seus
arredores
anjos degolados
lagartos de metal
sucata de gestos
vômitos
das claraboias
2.
a casa
é seus corredores
não suas
janelas
janelas são
mosaicos
interiores
PÁSSARO
O pássaro é
um pedaço de seu voo
Há o voo do
pássaro e outro lado do voo
O ar é um
pedaço do voo
é o outro
lado do ar
O ar voa no
pássaro
o pássaro é
o outro lado do voo
As asas são
o voo do ar
O pássaro é
o outro lado do ar
O ar sem
pássaro voa
O pássaro pousa
no ar
O pássaro é
o pouso do ar
A morte do
pássaro no ar
é o outro
lado de seu voo
O pássaro morto
é seu voo pousado na morte
ELOGIO DA
SOMBRA
Do buraco à
sombra
tudo são
inverno
são elegia
no pórtico
da noite vertical
Sucumbiremos
nela
palco da
beleza serena
com nossas
abstrações velhas
e nosso
horror à realidade
Poetas loucos
músicos surdos
pintores cegos
- do que é feita a arte
sucumbiremos
para renascer
sem calendário
e roda
de fiar
•
Sérgio Campos nasceu no Rio de Janeiro em 1941. No espaço de dez anos, publicou
exatamente doze obras. Sua estreia em livro individual aconteceu, em 1984,
com A casa dos elementos,
composto por seis odes (ao mar, à terra, ao fogo, ao ar, aos quatro ventos
elementares e aos quatro pássaros elementares) e um soneto ao Pássaro Anael. Os
outros títulos foram: Bichos (1985); Ciclo amatório (1986); Montanhecer
(1987); Nativa idade, (1990); O lobo e o pastor (1990); As
iras do dia, (1990); Móbiles de
sal (1991); A cúpula e o rumor (1992); Leitura de cinzas (1993), Mar anterior - poesia selecionada e
revista 1984/94 (1994). O poeta morreu em 1994.
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