NESTA
AMETISTA
Nesta
ametista
estão
sedimentadas as eras da noite
e uma
prístina inteligência de luz
inflamou a
amargura
ainda
líquida
e chorou
Tua morte
resplandece ainda
dura violeta
QUEM CHAMA?
Quem chama?
A própria
voz!
Quem
responde?
Morte!
A amizade
naufraga
no bivaque
do sono?
Sim!
Por que um
galo não canta?
Ele espera
até que o beijo do alecrim
flutue sobre
as águas!
O que é
isto?
O instante
de desolação
do qual se
desprendeu o tempo
morto de
eternidade!
O que é
isto?
Sono e morte
não têm características
QUATRO DIAS
QUATRO NOITES
Quatro dias
quatro noites
teu
esconderijo foi um caixão
sobreviver
inspirou – e expirou –
para
retardar a morte –
Entre quatro
tábuas
jazia a dor
do mundo –
Lá fora o
minuto crescia pleno de flores
nuvens
brincavam no céu –
É UM ESCURO
COMO
É um escuro
como
caos antes
do verbo
Leonardo
procurou esse escuro
por detrás
do escuro
Jó estava
envolto
no corpo
materno dos astros
Alguém
sacode a escuridão
até que a
maçã Terra caia
madura no
fim
Um suspiro
será isso a
alma – ?
•
Nelly Sachs nasceu em Berlim em 10 de dezembro de 1891. Começou a escrever por volta dos
dezessete anos. E publicou, dentre outras obras, In den Wohnungen de Todes (Nas
moradas da morte), seu primeiro livro de poemas; Fahrt ins Staublose (Viagem
para o sem pó), que reúne seis livros escritos durante vinte anos. Recebeu
o Prêmio Nobel de Literatura em 1966 juntamente com Shmuel Yosef Agnon. Morreu em Estocolmo em 12 de dezembro
de 1970.
* Traduções de Carlos Fraga da Fonseca
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