Sou um menino
que zomba da inocência
Fui nutrido
com o leite da esfinge
e cedo
carreguei uma aranha no fígado em voz baixa
Gerei a cidade
das trevas humilhadas
e voltado
para mim mesmo
serpente sem
cabeça, fiel ao sol
Provoquei o
astro obsceno do mestre e do Imã
e o maculei
de sangue no pátio dos milagres
o astro das
areias que se apagou pela manhã
e me deparei
com o Livro ao contrário
Tomei o trem
para fomentar as turvações na água
estagnada
do sono
ancestral
sacudi os
carvalhos
e vi a morte
rir escondido diante do espetáculo das cabeças
que caíam
Minha voz
rompida parava no esboço desesperado da ausência
palavra anulada
quando
nossas mães nos carregavam nas costas
nos campos
e até o cemitério
nossas mães
resignadas procuravam em nós a infância
Nus em nossa
escuridão
fazíamos buracos
no asfalto
até o dia em
que o tempo parou na ponta do nosso despertar.
*
Branca a
ausência
qual morte
longínqua
nesse dia em
que o astro do esquecimento
pousará
sobre a erva molhada de uma memória envelhecida
Eu te vejo
cantada pelas manhãs
meninos nascidos
das areias
E o pássaro
me diz
ela é a sílaba
a pronunciar suavemente
entre um
pensamento e um riso
e se o olhar
se ausenta
deixa-te
tomar entre os dedos do sol
vai
dependurar o sonho nas tranças da noite
e recolhe as
estrelas que não são mais do céu
segura a mão
fértil quando pensares na cidadela deste corpo
frágil
Eclipse
e
silêncio
das pedras atormentadas
•
Tahar Ben
Jelloun nasceu a 1º de dezembro de 1946 em Fez. Um dos fundadores do movimento
Souffles, sua obra está circunscrita na prosa e na poesia. Com La nuit
secrée ganhou o prestigiado Prêmio Goncourt em 1987.
* Tradução de Cláudia Falluh Balduino Ferreira.
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