POEMA DO
AMOR SEM EXAGERO
Eu não te
quero aqui por muitos anos
Nem por
muitos meses ou semanas,
Nem mesmo
desejo que passes no meu leito
As horas
extensas de uma noite.
Para que
tanto Corpo!
Mas ficaria
contente se me desses
Por
instantes apenas e bastantes
A nudez
longínqua e de pérola
Do teu corpo
de nuvem.
O RELÓGIO
Quem é que
sobe as escadas
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com uma perna de pau?
Batendo o liso degrau?
Marcando o surdo compasso
Com uma perna de pau?
Quem é que
tosse baixinho
Na penumbra da antessala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?
Na penumbra da antessala?
Por que resmunga sozinho?
Por que não cospe e não fala?
Por que dois
vermes sombrios
Passando na face morta?
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?
Passando na face morta?
E o mesmo sopro contínuo
Na frincha daquela porta?
Da velha
parede triste
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.
No musgo roçar macio:
São horas leves e tenras
Nascendo do solo frio.
Um punhal
feriu o espaço...
E o alvo sangue a gotejar;
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.
E o alvo sangue a gotejar;
Deste sangue os meus cabelos
Pela vida hão de sangrar.
Todos os
grilos calaram
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com sua capa vazia.
Só o silêncio assobia;
Parece que o tempo passa
Com sua capa vazia.
O tempo
enfim cristaliza
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do seu cristal.
Em dimensão natural;
Mas há demônios que arpejam
Na aresta do seu cristal.
No tempo
pulverizado
Há cinza também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.
Há cinza também da morte:
Estão serrando no escuro
As tábuas da minha sorte.
ALUCINAÇÃO
EM BRANCO
Nessas barracas em branco
Quem misteriosamente teria se escondido?
São barracas de campanha,
ou de passar todo o verão no campo.
Lembram também cordas de mastros
Dos quais as velas se ausentaram.
Pois as velas voaram enfunadas e suspensas
No ar, que é – sonho das asas –
Todo o branco do contorno,
Navegam em limpas atmosferas.
São panos estendidos ao sol
Para secar, no quintal de alguma casa;
Grandes lençóis ondulantes
Ao vento que vem e vai,
Ao vento que não para de agitá-los.
Há um jogo de pontas nesses mastros,
Pontas dirigidas em todos os sentidos.
E as linhas e as sobre-linhas,
Se orientam como se fosse possível
Substituir definitivamente,
Todo o branco do papel.
Nessas barracas em branco
Quem misteriosamente teria se escondido?
São barracas de campanha,
ou de passar todo o verão no campo.
Lembram também cordas de mastros
Dos quais as velas se ausentaram.
Pois as velas voaram enfunadas e suspensas
No ar, que é – sonho das asas –
Todo o branco do contorno,
Navegam em limpas atmosferas.
São panos estendidos ao sol
Para secar, no quintal de alguma casa;
Grandes lençóis ondulantes
Ao vento que vem e vai,
Ao vento que não para de agitá-los.
Há um jogo de pontas nesses mastros,
Pontas dirigidas em todos os sentidos.
E as linhas e as sobre-linhas,
Se orientam como se fosse possível
Substituir definitivamente,
Todo o branco do papel.
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Joaquim Cardozo
nasceu no dia 26 de agosto de 1897 em Recife. Formado em Engenharia e dedicado
à profissão nunca deixou a literatura, exercida entre a prosa e a poesia. Seu
primeiro livro, Poemas, foi publicado em 1947 com prefácio de Carlos
Drummond de Andrade. Depois, publicou mais de uma década de títulos. Cardozo
morreu em 4 de novembro de 1978, em Olinda.
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