segunda-feira, 29 de abril de 2019

Dois poemas de D. H. Lawrence



A INDECÊNCIA PODE SER SAUDÁVEL

A indecência pode ser normal, saudável;
na verdade, um pouco de indecência é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

E um pouco de putaria pode ser normal, saudável.
Na verdade, um pouco de putaria é necessário em toda vida
para a manter normal, saudável.

Mesmo a sodomia pode ser normal, saudável,
desde que haja troca de sentimento verdadeiro.

Mas se alguma delas for para o cérebro, aí se torna perniciosa:
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.

Do mesmo modo, a castidade na hora própria é normal e bonita.
Mas a castidade no cérebro é vício, perversão.
E a rígida supressão de toda e qualquer indecência, putaria e relações assim
leva direto a furiosa insanidade.
E a quinta geração de puritanos, se não for obscenamente depravada,
é idiota. Por isso, você tem de escolher.

* Tradução de José Paulo Paes



O DESEJO ESTÁ MORTO

O desejo pode estar morto
e mesmo assim um homem pode ser
um ponto de encontro para o sol e a chuva,
deslumbramento que antecede a dor
como numa árvore invernal.

* Tradução de Mário Alves Coutinho

D. H. Lawrence nasceu a 11 de setembro de 1885 em Nottingham. Autor de vasta obra, ficou reconhecido pela sua obra em prosa, sobretudo pelo polêmico romance O amante de Lady Chatterley; nesse gênero também escreveu outros títulos de grande relevo como Mulheres apaixonadas. Autor de contos, peças de teatro, livros de viagens e de mais de oito centenas de poemas. Morreu em Vence a 2 de março de 1930.

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