O BOI
Amo-te, ó pio boi! Um sentimento
De vigor e de paz tu me ofereces
Quando, impassível como um monumento,
O olhar nos campos verdes adormeces...
Preso à canga, momento por momento,
Mais útil e paciente me pareces.
O homem te ordena e tu, no macilento
Volver dos olhos tristes, lhe obedeces.
Pela tua narina escura e fria,
Teu espírito passa e é um hino ardente
Teu mugido cortado de agonia.
E em teu olhar, que pelo azul se perde,
Se esconde, longa e dolorosamente,
Verde, a planura do silêncio verde.
* Tradução de Olegário Mariano.
SOL E AMOR
Leves e alvas à plaga ocidental,
As nuvens vão: seja por onde for,
Sorri o céu, como o humano labor
Saúda o sol, benigno, triunfal.
Em mil flechas desponta a catedral
E santos de ouro e rosado fulgor,
Radia então a hosana e há o rumor
Dos falcões, este alívolo coral.
Assim, depois que Amor - riso de calma -
Nuvens rasgou que me agravaram tanto,
Pode exsurgir à luz do sol minha alma.
E lhe sorri multiplicado o santo
Ideal da existência: é uma harmonia
O pensamento: e o sentimento é um canto.
* Tradução de C. Tavares Bastos
O SONETO
Deu-lhe Dante um mover de asas divino,
E o circundou de azul e oiro esplendente:
Nele vazou Petrarca um cristalino
Rio de amor, de lágrimas, fremente.
A ambrosia mantuana e o venusino
Mel Tasso lhe infundiu no seu albente;
Fez dele Alfieri dardo adamantino
Contra servos e déspotas, veemente.
Dos rouxinóis, sob jônicos ciprestes,
Hugo as canções lhe deu quase celestes,
E de acanto o cingiu do solo amado.
Último eu - não sexto - arte, êxtase, pranto,
Perfume e ira renovo e aos mortos canto,
Nestes inglórios dias, desolado.
* Tradução de Freitas Guimarães.
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Giosuè
Carducci nasceu a 27 de julho de 1835 em Valdicastello. Foi o primeiro italiano
a receber o Prêmio Nobel de Literatura – em 1906. Aluno da Universidade de
Pisa, tão logo concluiu seus estudos passou a ocupar a cátedra de literatura
italiana da Universidade de Bolonha. Publicou livros como: Rime, uma
coletânea de poemas que atentava contra o romantismo e propunha um retorno à tradição
clássica; Juvenilia e Levi agravia, com poemas de teor humanístico.
Carducci morreu a 16 de fevereiro de 1907, na cidade onde passou extensa parte
de sua vida, Bolonha.
Grande poeta
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