segunda-feira, 27 de maio de 2019

Um poema de Ray Bradbury




Sempre carrego comigo o invisível,
as coisas que sei e não conheço
e pretendo tatear
nesse país de cegos
que é a mente e cada pensamento
e todas as mudanças atmosféricas do interior.

Sinto a mudança de luz
os diferentes tons dos entardeceres caminho para a noite;
de todos esses sonhos na penumbra antes da aurora
escrevo poemas, ofereço a eles um lar,
do jardim hieroglífico onde os cães rabiscam
escrevendo futuros num trevo cheio de geada,
tornando murcho ou morto.

Lá vai! Escuta os gritos. Lá vai!
Uma varanda solitária escala o céu,
um menino que não vemos a soltou
para uma garota na grama de rosto mais distante do meio-dia.

Retenho-os
para relê-los algum dia de inverno quando escurece
às três e minha razão para existir
seja um balão roda-mundos do céu
jogado no infinito
de uma mão invisível para outra mão invisível.

Lá ele vai fiar, porque
posso fazer o arco congelar.
Grito: Pare!
e a bola, nos versos
está suspensa entre as árvores
para nunca descer
então você vê, é verdade
eu sempre carrego comigo o invisível
da mesma maneira que tu o carregas visível em ti.


Ray Bradbury nasceu em Illinois no dia 22 de agosto de 1920. Ficou reconhecido como um dos grandes escritores de ficção científica, mas escreveu também ensaios, poemas e roteiros para o cinema. Morreu em Los Angeles a 6 de junho de 2012.

* Tradução de Pedro Fernandes de Oliveira Neto.


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