Sempre
carrego comigo o invisível,
as coisas
que sei e não conheço
e pretendo tatear
nesse país de
cegos
que é a
mente e cada pensamento
e todas as
mudanças atmosféricas do interior.
Sinto a
mudança de luz
os diferentes
tons dos entardeceres caminho para a noite;
de todos
esses sonhos na penumbra antes da aurora
escrevo
poemas, ofereço a eles um lar,
do jardim hieroglífico
onde os cães rabiscam
escrevendo
futuros num trevo cheio de geada,
tornando murcho
ou morto.
Lá vai!
Escuta os gritos. Lá vai!
Uma varanda
solitária escala o céu,
um menino que
não vemos a soltou
para uma garota
na grama de rosto mais distante do meio-dia.
Retenho-os
para relê-los
algum dia de inverno quando escurece
às três e minha
razão para existir
seja um
balão roda-mundos do céu
jogado no
infinito
de uma mão
invisível para outra mão invisível.
Lá ele vai
fiar, porque
posso fazer
o arco congelar.
Grito: Pare!
e a bola,
nos versos
está suspensa
entre as árvores
para nunca
descer
então você
vê, é verdade
eu sempre
carrego comigo o invisível
da mesma
maneira que tu o carregas visível em ti.
•
Ray Bradbury
nasceu em Illinois no dia 22 de agosto de 1920. Ficou reconhecido como um dos
grandes escritores de ficção científica, mas escreveu também ensaios, poemas e
roteiros para o cinema. Morreu em Los Angeles a 6 de junho de 2012.
* Tradução de Pedro Fernandes de Oliveira Neto.
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