segunda-feira, 3 de junho de 2019

Três poemas de Karin Boye




Como posso dizer se a tua voz é bela.
Apenas sei que ela me atravessa,
que me faz estremecer como uma folha
e me despedaça e me arrebenta.
O que eu sei sobre a tua pele e sobre os teus membros.
Eles me abalam apenas por serem teus,
então para mim não há nem descanso e nem paz,
enquanto eles não forem meus.


LEMBRANÇA

Serenamente quero agradecer ao destino
por nunca me permitir te perder completamente.
Como uma pérola crescendo dentro da concha
assim dentro de mim
cresce a tua delicada essência.
E se um dia eu acabar te esquecendo —
então tu és sangue do meu sangue
então tu és um só comigo —
aquilo que os deuses nos deram.


VIA MÉDIA

Pedi uma vez pela alegria sem limites,
Pedi uma vez pela tristeza, como a infinitude do espaço.
Será que a timidez cresce com os anos?
Bela, bela é a alegria, assim como a tristeza.
Mais belo ainda é estar no lugar escolhido pela dor
e, com entusiasmo ver, que o sol brilha.


Karin Boy nasceu a 26 de outubro de 1900 na cidade de Gotemburgo, Suécia. Foi morar em Estocolmo onde concluiu o magistério; frequentou a Universidade de Uppsala e a Universidade de Estocolmo. Sua primeira coletânea de poemas, Nuvens, foi publicada em 1922; uma década mais tarde, da experiência com os jornais de esquerda na luta contra o fascismo, fundou a revista de poesia Spektrum, responsável por dar conhecer, entre os leitores do seu país, a obra de T. S. Eliot e a poesia surrealista, em parte, traduzida por ela. Além de poesia, escreveu o romance distópico Kallocaína; de forte inspiração na sua visita à Berlim tomada pelo nazismo, aqui a escritora imagina uma sociedade reprimida e controlada por uma droga desenvolvida pelo cientista idealista Leo Kall. Desde gênero publicou ainda Crise, um romance no qual descreve sua adolescência e a descoberta da bissexualidade. Em poesia escreveu Terra escondida, Os lares, Por amor da árvore e Os sete pecados mortais, este último publicado postumamente. A poeta suicidou-se a 24 de abril de 1941, em Ålingsas.

* Traduções de Fernanda Sarmatz Åkesson disponibilizadas na página Um poema nórdico aodia



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