BLUES DA
CHUVA
Aguacero
belo músico
aos pés de uma árvore desfolhada
em meio às harmonias perdidas
junto de nossas memórias derrotadas
em meio às nossas mãos de derrota
e dos povos de estranha força
deixamos abaixar nossos olhos
e nascer
desatando as cordas de uma dor
nós choramos.
ENTRE
OUTROS MASSACRES
Com todas as suas forças o sol e a lua colidem
as estrelas caem como testemunhas apodrecendo
e como uma ninhada de ratos cinzentos
medo algum
prepara suas águas altas
que tão facilmente removem o banco de espelhos
que tão facilmente removem o banco de espelhos
eles jogaram
lama por sobre meus olhos
e vejo eu vejo terrivelmente eu vejo
de todas as montanhas de todas as ilhas
nada deixado a salvo os poucos dentes podres
da impenitente saliva do mar
e vejo eu vejo terrivelmente eu vejo
de todas as montanhas de todas as ilhas
nada deixado a salvo os poucos dentes podres
da impenitente saliva do mar
PRESENÇA
todo um maio de canafístulas
sobre o peito de puro soluço
de uma ilha adúltera de lugar
carne que tendo possuído a si mesma colhe suas vindimas
Ó lentidão entre os dacitos
uma pitada de pássaros espalhada pelo vento
na qual as cataratas do tempo passam misturadas
a pura profusão de um raro milagre
na tempestade sempre crédula
de uma não evasiva estação
•
Aimé Césaire
nasceu em Basse-Pointe, na Martinica, a 26 de junho de 1913. Escreveu poesia,
teatro e ensaio. É um dos mais importantes nomes do Surrealismo e idealizador
do conceito de negritude com o presidente do Senegal Léopold Sédar Senghor.
Morreu em Fort-de-France a 17 de abril de 2008.
* Traduções de
André Caramuru Aubert. Estes poemas foram apresentados primeiramente no jornal Rascunho.
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