segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Um poema de Sully Prudhomme



O vaso partido

O vaso azul destas verbenas,
Partiu-o um leque que o tocou:
Golpe subtil, roçou-o apenas,
Pois nem um ruído o revelou.

Mas a ferida persistente,
Mordendo-o sempre e sem sinal,
Fez, firme e imperceptivelmente,
A volta toda do cristal.

A água fugiu calada e fria,
A seiva toda se esgotou;
Ninguém de nada desconfia.
Não toquem, não, que se quebrou.

Assim, a mão de alguém, roçando
Num coração, enche-o de dor;
E ele se vai, calmo, quebrando,
E morre a flor do seu amor;

Embora intacto ao olhar do mundo,
Sente, na sua solidão,
Crescer seu mal fino e profundo.
Já se quebrou; não toquem não.

Sully Prudhomme nasceu em Paris a 16 de março de 1839. O poeta francês foi o primeiro escritor a receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1901. O autor de obras diversas, como Le Bonheur (188) e Les epaves (1908), morreu a 6 de setembro de 1907 em Châtenay-Malabry.

* Tradução de Guilherme de Almeida.

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