AS FLORES
DORMEM
as flores
dormem na janela e a lâmpada fita luz
e a janela
fita descuidada a escuridão lá fora
os quadros
mostram inanimados o conteúdo a eles confiado
e as moscas
estão imóveis na parede e pensam
as flores
encostam-se à noite e a lâmpada fia luz
no canto o
gato fia lã para dormir com ela
no fogão a
cafeteira ressoa agradada volta e meia
e no chão as
crianças brincam sem ruído com palavras
a mesa coberta
de branco espera por alguém
cujos passos
nunca sobem pela escada
um comboio
perfura o silêncio ao longe
e não
desvenda o segredo das coisas
mas o
destino conta as badaladas com decimais.
ENTRE
NENÚFARES
Escrevi uma introdução para o que teria dito
mas rasurei-a. - Quero no entanto
que antes de a noite me envolver
a última coisa que de mim se aviste
seja um punho fechado entre nenúfares
e a última coisa que se oiça de mim
seja uma palavra de bolhas de ar
Escrevi uma introdução para o que teria dito
mas rasurei-a. - Quero no entanto
que antes de a noite me envolver
a última coisa que de mim se aviste
seja um punho fechado entre nenúfares
e a última coisa que se oiça de mim
seja uma palavra de bolhas de ar
a vir do
fundo.
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Gunnar Ekelöf nasceu a 15 de setembro de 1907 em Estocolmo. Sempre lembrado como o primeiro poeta surrealista da Suécia, sua estreia literária se deu em 1932 com uma antologia escrita durante sua prolongada estadia em Paris nos dois anos anteriores. Autor de vasta obra, Gunnar é amplamente lido entre os poetas modernistas escandinavos e é um clássico da poesia sueca do século XX. Morreu no dia 16 de março de 1968 em Sigtuna.
* Traduções de Vasco Graça Moura.
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