Ali onde sem
nome a pátria escura
me repete onde nasce a Primavera,
ao silêncio do dia que
não espera
eu dou a voz subitamente pura.
Horror que foge sempre e que perdura,
muro imortal amando a própria hera,
assim eu oiço o anjo além da fera,
suave
luz queimando a noite dura.
Surge um fogo sem espanto, negro e alvo.
Dissolve‑se
a montanha. Totalmente.
Alguém que me seguia já está salvo.
E fico só.
E canto. E sigo em frente.
Ao fim da minha voz encontro o alvo
onde
os deuses a ferem mortalmente.
20/02/1954
OS POETAS E
OS AMANTES
Ignoram e sabem. São o vento
que orienta os caminhos verdadeiros.
Redentores dos deuses nos humanos,
ei‑los —
a fúria solene das noites que
amanhecem,
as lágrimas dos olhos ignoradas,
a doçura das praias que prosseguem,
conservando na areia, durante algum tempo,
os passos humanos.
•
Alberto de Lacerda nasceu a 20 de setembro em Moçambique. Mudou-se para Lisboa em 1946,
daí para Londres e Estados Unidos, países onde divide sua vida até 27 de agosto
de 2007, data da sua morte. Dentre os livros publicados estão 77 poemas,
(1955), Palácio (1961), Exílio (1963), Tauromagia (1981), Oferenda
1 (1984), Meio-dia (1988), Sonetos (1991), Oferenda 2
(1994), Átrio (1997) e Horizonte (2001).
Nenhum comentário:
Postar um comentário