terça-feira, 28 de abril de 2020

Três poemas de Umberto Saba


O LUGAR

Perambulamos toda a tarde em busca
de onde fazer de duas vidas uma.

Ruidosa, a vida adulta; e hostil
ameaçava a nossa juventude.

Mas aqui ainda cantam grilos,
quanto silêncio sob esta lua.



Estou só. Ninguém nem escuta onde
aos amigos dispersos todo apelo
é vão.
O ódio rebrilha como gelo, e penso
que esta noite te verei, meu amor.

Penso o quanto, no sol
que ressalta, na sombra que esconde,
fiz, errei, dizendo-me em paz algumas
palavras.


NOITE DE FEVEREIRO

A lua desponta.
                               Na avenida é dia
ainda, uma noite rápido cai.
Indiferente juventude reúne-se;
debanda em buscas vãs;
                                               e o pensamento
da morte é que, enfim, ajuda a viver.

Umberto Saba nasceu em Trieste a 9 de março de 1883. Escreveu prosa, sobretudo romances, e poesia, matéria centrada, como destaca a crítica, na busca persistente de uma perfeição e coerência formais com que cobrir a aspereza do vivido do sentido. Morreu no dia 25 de agosto de 1957 em Gorizia. 

* Traduções de Júlio Castañon Guimarães. Os poemas foram publicados inicialmente na revista Sibila.  

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