A Francisco Brennand
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.
Carolina, a cansada, fez-se espera
e nunca se entregou ao mar antigo.
Não por temor ao mar, mas ao perigo
de com ela incendiar-se a primavera.
despiu, humildemente, as vestes pretas
e incendiou navios e corvetas
já cansada, por fim, de tanta espera.
escandalosamente penetrado
de imprevistos azuis e claro lume.
abandonou seu corpo incendiado
e adormeceu nas brumas do Recife.
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
TESTAMENTO DO HOMEM SENSATO
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
Quando eu morrer, não faças disparates
nem fiques a pensar: “Ele era assim...”
Mas senta-te num banco de jardim,
calmamente comendo chocolates.
Aceita o que te deixo, o quase nada
destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.
destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.
Porém, se um dia, só, na tarde em queda,
surgir uma lembrança desgarrada,
ave que nasce e em voo se arremeda,
surgir uma lembrança desgarrada,
ave que nasce e em voo se arremeda,
deixa-a pousar em teu silêncio, leve
como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.
como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.
•
Carlos Pena Filho nasceu a 17 de
maio de 1929 em Recife. Viveu parte de sua vida em Portugal com os avós
paternos; no retorno ao Brasil, formou-se em Direito. Neste período participa
ativamente da vida polícia na universidade. Escreveu para os jornais Diário
de Pernambuco e Jornal do Comércio. Seu primeiro livro aparece em
1952, O tempo da busca, seguido de Memórias do boi Serapião
(1956), A vertigem lúcida (1957) e Livro geral (1959); este
último reunia toda a obra publicada até então com poemas inéditos. Com o livro
recebeu o Prêmio do Instituto do Livro. Morreu vítima de um acidente
automobilístico a 1º de julho de 1960.
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