AO ESPELHO
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como a um condenado sem remédio.
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para enfrentar o tédio dos espelhos.
Mas não foi, convenhamos, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.
(1957)
De Moraes, inda que mais
Próprio fora que Imorais
Quem te conhece chamara ―
Doce, bonito e ladino
E és um calhordaço fino:
Só queres amor e ócio,
Capadócio!
As damas cantando enleias
E as prendes em tuas teias ―
Tanto mal já fizeste,
Cafajeste!
Tua presença, que a malta
Do Rio pede em voz alta:
Deus te dê vida e saúde
Em Hollywood!
•
Rubem Braga nasceu a 12 de janeiro de
1913 em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Sua dedicação à escrita de
crônicas começou desde cedo e o fez reconhecido como o mais importante nome da
literatura brasileira nesta forma criativa. É vasta sua obra e dela se destacam
títulos como O conde e o passarinho, A borboleta amarela, Recado
de primavera e Um cartão de Paris. Interessado leitor de poesia,
organizou edições com a obra de Casimiro de Abreu e Luís de Camões. Designado poeta
bissexto, integrou várias antologias, como a Antologia dos poetas
contemporâneos; mais tarde toda essa produção foi organizada no Livro de
versos. Morreu no dia 19 de dezembro de 1990, no Rio de Janeiro.
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