terça-feira, 30 de março de 2021

Três poemas de Árpád Tóth



EM HORA ESTÉRIL

Estou só.
Muito.
As lágrimas correm.
Deixo.
Toalha de oleado na minha mesa,
talho, indolente, uma canção,
enfezado, figura miserável, eu.
Eu, eu.
E estou só no universo.

1908
 
 
A ÁRVORE

Oh, olha a estranha árvore dobrada,
que se curva sobre o ribeiro;
oh, como podes não amá-la,
nela não buscar teu companheiro?
Entre os ramos o dourado sol já
não toma; as aves, silenciosas;
não dá já flores, nem fruto,
mas ele aí está, o sábio do crepúsculo,
qual o pensador, que, em tarde assim,
se afunda no mistério do sem fim,
e seu corpo inclina brandamente para lá,
onde sua alma, incorpórea, arrastará…

1916
 
 
MUDA-SE

Muda-se o mundo a pouco e pouco,
em silêncio escurece, docemente,
e não ficará nada, de repente,
das suas mil cores, do fogo louco.
Já não me atrai nenhuma distância,
não causa vertigens qualquer altura…
Não querem chorar mais estes meus olhos…
 
1926-1928
 
Árpád Tóth nasceu a 14 de abril de 1886 em Arad. Começou a publicar seus poemas ainda em 1907 em revistas e jornais como A Hét e Vasárnapi Újság. Escreveu crítica e foi tradutor de importantes nomes para o húngaro, como John Milton, Oscar Wilde, John Keats, Charles Baudelaire e Tchekhov. Morreu a 7 de novembro de 1928 em Budapeste.
 
* Traduções de Ernesto Rodrigues. Estes poemas foram publicados inicialmente no portal Luso Magyar News.
 

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