os rios
do teu ventre
os alvores
da tua fronte
isso eu queria reencontrar
dos olhos quero
te amar estrangeiro
inimigo
homem amante
inimigo
não és pai
de mulher como queres
parecer
e se o olhar
abrandas a
mentira do teu
sexo se aguça
numa faca
eu não temo a
lâmina
conter eu posso
esse assalto sem
esforço e te roubar
o esperma mulher
e ladra a
natureza me
fez para gozar
e te furtar a
vida que temes
dar homem avaro
que dilapidas
nas dúvidas do ser
ou do não ser
o teu pênis
de perder na escureza dos cabelos
de um sono prolongado algum sinal
da tua voz de ontem. Tenho medo
de despertar com o sol que se furta
atrás da esquina sombria da casa.
•
Goliarda Sapienza nasceu a 10 de maio
de 1924 em Catania. Começou a escrever a partir da morte de sua mãe, em 1953,
primeiro poesia e depois prosa — é dela o monumental romance histórico L’arte
dela gioia sobre uma mulher não restringida pela moralidade convencional. Trabalhou
como atriz em vários filmes, incluindo Dialogo di Roma dirigido por
Marguerite Duras. Na poesia se destaca por livros como Ancestral e Sicilianos,
dois livros, como a maioria de sua obra, publicados postumamente. Morreu em
Gaeta a 30 de agosto de 1996.
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