ANGÚSTIA
O mar avança pela noite dentro
Rumo a tantas praias sós, distantes;
De vento e espuma é seu lamento
E de sal, como lágrimas flamantes.
Assim eu sinto o mar
Quando ele se quebra a soluçar
Contra as escarpas da terra,
E com as ondas minha dor suplica
A graça perdida de
Outra vez perto de ti me encontrar.
Quero largar meu navio, caminhar
P’las águas rumo a todo o horizonte
Pois esteja onde estiver, eu
cismo:
Tal como o luar das nuvens aparece
Minha dor p’lo mundo vagueia e entontece
E seu desejo é afogar-se no abismo
Porém, de noite eu sei que
O mar e eu sofremos a mesma mágoa
E que no leito sem margem, feito d’água
Um único soluço nos revolve.
Assim fui buscando p’ra esquecer
Que tudo perdi por uma mulher;
Mas quando o mar reluz, preso do encanto
De novo me afundo, lavado em pranto.
ASPIRAÇÃO
Amanhã há-de raiar a liberdade,
Esperamos nós cada dia que passa,
Pra não volveremos a cair na obscuridade,
Volta — luz nossa, para sempre.
Jamais virá esse momento
Tal como nenhum anjo desce à terra,
Nem a lugares onde o sofrimento
Despe o azedume e enverge o desespero.
Não face à ordem que nos guia:
A felicidade espera a vez que lhe cabe
E só vem à luz um dia
No quadro da realidade.
Mas eis que na estreiteza da vida,
Seu reino se abre, em imenso lugar...
Por ela nos deixámos iluminar:
E agora sabemos, quando anuncia:
“A tempo me faço chegar”.
*Traduções de Mila Vidal Paletti
Rumo a tantas praias sós, distantes;
De vento e espuma é seu lamento
E de sal, como lágrimas flamantes.
Quando ele se quebra a soluçar
Contra as escarpas da terra,
E com as ondas minha dor suplica
Outra vez perto de ti me encontrar.
Quero largar meu navio, caminhar
P’las águas rumo a todo o horizonte
Tal como o luar das nuvens aparece
Minha dor p’lo mundo vagueia e entontece
E seu desejo é afogar-se no abismo
O mar e eu sofremos a mesma mágoa
E que no leito sem margem, feito d’água
Um único soluço nos revolve.
Que tudo perdi por uma mulher;
Mas quando o mar reluz, preso do encanto
De novo me afundo, lavado em pranto.
Esperamos nós cada dia que passa,
Pra não volveremos a cair na obscuridade,
Volta — luz nossa, para sempre.
Tal como nenhum anjo desce à terra,
Nem a lugares onde o sofrimento
Despe o azedume e enverge o desespero.
A felicidade espera a vez que lhe cabe
E só vem à luz um dia
No quadro da realidade.
Seu reino se abre, em imenso lugar...
Por ela nos deixámos iluminar:
E agora sabemos, quando anuncia:
“A tempo me faço chegar”.
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Jan Jacob Slauerhoff nasceu a 15 de
setembro de 1898 em Leeuwarden. Estudou Medicina em Amsterdã, quando escreveu
seus primeiros poemas, alguns dos quais publicados em pequenos jornais de
estudantes; a tarefa se tornaria recorrente nos trabalhos seguintes, que
aparecem em revistas com Het Getij e depois no seu primeiro livro de
poemas, Arquipélago, de 1923. Inicia sua prática médica a bordo, o que lhe
permite viajar o Oriente e o Ocidente, incluindo passagens pela América Latina.
Além de poesia, escreveu romances, ensaios e teatro; interessado em literatura
portuguesa e latino-americana, traduz ao holandês autores como Eça de Queirós,
Ricardo Güiraldes e Ramón Luis Guzmán. Morreu a 5 de outubro de 1936.
*Traduções de Mila Vidal Paletti
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