talvez dos teus olhos
vem esta ternura
que minha alma
alcança.
Mas pouco sabes de mim.
e é melhor assim.
Esculpo a página a lápis
e um cheiro de bosque
então me aparece.
Que a poesia é feita de romãs
daquilo que é eterno
e de tudo que apodrece.
plena de silêncio
ainda que sob os ramos
o pássaro da infância
ressuscite as tardes brancas
a meninas e as tranças.
Reencontrei meu corpo
meus pensamentos de ontem
e as ameixas sobre o prato azul da sala.
A carne dos meus pensamentos tem a polpa
destas ameixas
mas falta volúpia
e perfume.
O que sonho a cada dia
é morder a vida.
Assim
•
Neide Archanjo nasceu em São Paulo
em 1940. Formada em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco da Universidade
de São Paulo, sua vida na literatura começa ainda no período de estudante com o
livro Primeiros ofícios da memória (1964). Depois do curso de Direito,
conclui o curso de Psicologia nas Faculdades Metropolitanas. A carreira
literária, no entanto, nunca esteve em segundo plano; Neide atuou em várias
frentes da promoção ao acesso à literatura enquanto publicava títulos que mereceram
a atenção de colegas e da crítica. Dos seus livros destacam-se O poeta
itinerante (1968), Poesia na praça (1970, livro que registra o
movimento por ela criado em que poetas expunham seus textos em cartazes e
faziam recitais livres na cidade de São Paulo), Quixote, tango e foxtrote
(1975), Escavações (1980), As marinhas (1984), Tudo é sempre
agora (1994), Pequeno oratório do poeta para o anjo (1997) e Epifanias
(1999), seu trabalho mais conhecido. Em 2005, o livro que reúne sua obra poética
até então, Todas as horas e antes recebe o Prêmio Jabuti e o Prêmio da
Academia Brasileira de Letras; antes, em 1980, recebe da Associação Paulista de
Críticos de Arte (APCA) o prêmio com Escavações. Neide Archanjo morreu
em 14 de janeiro de 2022.
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