A INFÂNCIA
Extenuada, a sua fronte na sombra pendia;
E sobre ela, a morte numa nuvem vagueava;
E eu ouvia a canção e escutava a agonia.
Um claro som de riso e de jogos se erguia;
E a mãe, ao lado da criança doce e bela
Que todo o dia cantava, toda a noite tossia,
E o menino voltou a cantar...
A dor é um fruto que Deus não faz surgir
Num ramo frágil demais para suportar.
Sempre cantante e ladina,
Disse o sultão com ardor:
— Eu daria sem favor
O meu reino por Medina,
Medina por teu amor.
Pois não é bom que se afirme
O prazer ter encontrado
Nos braços de um debochado.
Não quero fazer um crime:
Já me basta um pecado.
Minha rainha, realça
Do teu colo o branquear,
Eu farei por te agradar,
Se quiseres que eu faça
Rosário do teu colar
O sol, essa flor de infinito esplendor,
Se inclinava sobre a terra à hora do poente;
Uma humilde margarida, no campo florescente,
Sobre um muro cinzento, entre aveia a vibrar,
Branca, sua cândida auréola faz desabrochar;
E a pequenina flor, sobre o seu velho muro,
Fixamente olhava, no eterno azul tão puro,
O grande astro que a luz imortal envia.
— E eu, eu também tenho raios! — lhe dizia.
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Victor Hugo nasceu a 26 de fevereiro
de 1802 em Besançon. Destacado poeta, autor de mais de duas dezenas de livros
de poesia, também se tornou figura relevante na prosa (romance, ensaio) e nas
artes plásticas. Morreu no dia 22 de maio de 1885, em Paris.
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