OS OLHOS EM ALVO
Sobre a relva esmagada,
sob a copa sombria
te reclinei desmaiada
quando a tarde morria.
Olhei tua face ruborizada
que pálida se tornava,
e senti tua boca gelada
sob o ardor da minha...
E antes de que agonizante
caísse sobre teu flanco
cravado meu último desejo,
olhei no supremo instante
até teus olhos em alvo
descer o ouro do céu!
NOITE DO TRÓPICO
Na fúnebre abóbada não brilham as
estrelas,
jamais enlutou o céu mais lôbrego capuz...
E contudo estriado de tenebrosos rastros
sob o céu de ônix o mar é todo luz!
Sobre o profundo abismo a luz é
móvel nata
de onde apenas um Érebo de sombras desliza,
e nessa tenebrosa película de prata
em pérolas se desfaz a onda que se encrespa.
Mas sobre a amurada o nauta que se
inclina
teme que pareça um sonho seu rápido vislumbre
de incandescentes peixes e flora submarina
e anêmonas de fósforo entre árvores de luz,
e — de um peixe luminoso ao lívido
farol —
o cadáver de náufrago, que na sombra total,
com os ossos tão brancos que parecem de luz,
é
igual
a uma cruz
de cristal!...
ÍNTIMA
Já todo meu tesouro o carrego
dentro
ostra rugosa, carne e terra.
Do porta-jóias pessoal
é o astro a pérola
que ilumina todos os mistérios.
Já não saio à varanda
se passa pela rua
com sua música o batalhão;
já não volto o rosto
se escuto às minhas costas
o retintim do ouro;
já não sigo o perfume
da puta graciosa
que dobrou a esquina.
Já todo meu tesouro
o carrego dentro.
New York, 1931
* Traduções de Ronald Polito.
sob a copa sombria
te reclinei desmaiada
quando a tarde morria.
que pálida se tornava,
e senti tua boca gelada
sob o ardor da minha...
caísse sobre teu flanco
cravado meu último desejo,
até teus olhos em alvo
descer o ouro do céu!
jamais enlutou o céu mais lôbrego capuz...
E contudo estriado de tenebrosos rastros
sob o céu de ônix o mar é todo luz!
de onde apenas um Érebo de sombras desliza,
e nessa tenebrosa película de prata
em pérolas se desfaz a onda que se encrespa.
teme que pareça um sonho seu rápido vislumbre
de incandescentes peixes e flora submarina
e anêmonas de fósforo entre árvores de luz,
o cadáver de náufrago, que na sombra total,
com os ossos tão brancos que parecem de luz,
a uma cruz
de cristal!...
ostra rugosa, carne e terra.
é o astro a pérola
que ilumina todos os mistérios.
se passa pela rua
com sua música o batalhão;
se escuto às minhas costas
o retintim do ouro;
da puta graciosa
que dobrou a esquina.
o carrego dentro.
•
José Juan Tablada nasceu a 3 de
abril de 1871, na Cidade do México. Sua vida no universo das letras começa
desde aos dezenove anos quando começou a colaborar para o jornal El Universal
com poemas e crônicas; sua permanência na imprensa do seu país e mais tarde
fora dele foi contínua: El Mundo Ilustrado, Excélsior, Revista
Azul, Revista Moderna, La Falange, entre outros. A estreia
literária acontece com o livro de poesia El florilégio em 1899. A atividade
como diplomata o fez morar em diversos países, como Colômbia, Venezuela, França,
Japão e Estados Unidos, onde fixa residência até sua morte a 2 de agosto de
1945.
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