terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Três poemas de Eunice Arruda




OLHE
 
O mundo é escrito
a portas
fechadas
 
Pequenas aranhas sobem
por um fio quase
invisível
 
As coisas ardentes
não dizem o
nome
 
 
SUBJETIVA II

Ainda ontem plantei flores na tarde
para poder dormir
mas não quero vê-las
orvalhadas ou murchas
 
Tenho dó das mãos que sabem
florir canteiros e
cobrir-se de
outono
 
 
GABRIEL

Cuidando da imortalidade
um poeta esquece a
vida
 
Come o pão
                      amanhã
 
Cerzindo as roupas claras
se veste de luto
pela casa
pobre cuidando: um poeta
De sonhos é que é
corrompido
um dia será lido
 
Eunice Arruda nasceu em Santa Rita do Passa Quatro, em 1939. Formada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mesma instituição onde se especializou em Comunicação e Semiótica, sua estreia na literatura acontece em 1960 com É tempo de noite. Depois deste livro veio mais de uma dezena de títulos, tais como Gabriel (1990) e Debaixo do sol (2010). Toda sua obra poética foi reunida em Visível ao destino (2019). Eunice Arruda morreu em São Paulo, em 2017.
 
 

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