terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Dois poemas de Boris Rýji

 


POR UMA PATACA, CIGANA, ADIVINHA
 
– Por uma pataca, cigana, adivinha,
Do que vou morrer, vai a fundo.
Responde a cigana o seguinte, não vive
quem é como tu neste mundo.
 
O filho vira outro, outra vira a mulher
se torna inimigo o amigo.
Que vai te matar? Esta culpa. Porém
cuide da sua culpa consigo.
 
Ante quem a culpa? Ante o estar vivo
E sorri, nos olhos encara.
A gangue na feira ressoa o motivo,
os céus vão ficando mais claros.
 
 
VAI OBTER UM EUROPEIZADO TOQUE

Vai obter um europeizado toque
a voz do transasiático poeta
esquecerei a fantástica Sverdlovsk
o pátio escolar de Vtorchermet

Mas onde quer que duro e frio eu caia
na fogosa Paris, úmida Londres,
enterrem minhas cinzas miseráveis
num cemitério de Sverdlovsk sem nome.

Nem é no plano do que é belo e falso,
mas pose artística e espalhafatosa,
porque é lá que estão os meus chegados
e os seus perfis em mármore e em rosas.
 
‘tão nos vitríolos de neve azuis
os que trupicaram, os ruins de nota,
com cobre em tartarugas como os
primeiros soldados da Perestroika.

Que a chaminé de Vtorchermet apite,
que a Plastpolimer assobie largo.
Uma mulher, que não estava comigo,
vai abrir o álbum e fumar com garbo.

Ela abrirá o álbum azul no qual o
futuro nossas faces acalenta,
onde éramos vivos, no azul do álbum.
Ralé local: bandidos e poetas.
 
Boris Rýji nasceu em 1974 na cidade de Chelyabinsk, Rússia. Ainda na sua infância muda-se com a família para Sverdlovsk (atual Ecaterimburgo, desde o fim da União Soviética). Formado em Geologia na Universidade dos Urais, sua dedicação à poesia o fez, desde cedo, reconhecido entre os mais importantes nomes da sua geração aquando recebe o prêmio Antibook. Com o seu livro Opravdaniye zhizni ainda recebe, postumamente o prêmio Palmira do Norte (São Petersburgo), um dos mais cobiçados entre os poetas. Rýji morreu a 7 maio de 2001.
 
* Traduções Astier Basilio com consultoria de Rafael Frate. Os poemas estão publicados na edição 253, janeiro de 2022, da revista Continente, p.79.

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