CANÇÃO DO PRIMEIRO ANO*
Pelas estradas antigas
As horas vêm a cantar.
As horas são raparigas,
Entram na praça a dançar.
As horas são raparigas...
E a doce algazarra sua
De rua em rua se ouvia.
De casa em casa, na rua,
Uma janela se abria.
As horas são raparigas
Lindas de ouvir e de olhar.
As horas cantam cantigas
E eu vivo só de momentos,
Sou como as nuvens do céu...
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
Uma por uma, as janelas
Se abriram de par em par.
As horas são raparigas...
Passam na rua a dançar.
Janela de minha vida
Aberta de par em par!
As horas cantam cantigas
E, de novo, sem lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Em tuas mãos distraídas...
Porto Alegre, 1/1/41
As horas vêm a cantar.
As horas são raparigas,
Entram na praça a dançar.
De rua em rua se ouvia.
De casa em casa, na rua,
Uma janela se abria.
Lindas de ouvir e de olhar.
Sou como as nuvens do céu...
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
Se abriram de par em par.
As horas são raparigas...
Passam na rua a dançar.
Aberta de par em par!
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Em tuas mãos distraídas...
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Mário Quintana nasceu a 30 de julho de 1906, em Alegrete, Rio Grande do Sul. Leitor exímio, foi autor de mais de uma centena de traduções, incluindo Honoré de Balzac, Marcel Proust, Virginia Woolf e Graham Greene. Figurou em vários jornais do seu tempo como colunista de cultura. Sua atividade com a literatura inclui a escrita de livros para crianças e de poesia, gênero no qual ficou reconhecido pela publicação de vasta obra, das quais se destacam títulos como: A rua dos cataventos (1940), Caderno H (1973), A vaca e o hipogrifo (1977) e Baú de espantos (1986). Morreu a 5 de maio de 1994, em Porto Alegre.
* “Canção do primeiro ano” foi
descoberto por George Augusto, livreiro de Porto Alegre. O manuscrito estava
dentro de um livro do poeta adquirido de uma coleção particular (Fonte: G1)
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