quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Um poema inédito de Mario Quintana

 


CANÇÃO DO PRIMEIRO ANO*
 
Pelas estradas antigas
As horas vêm a cantar.
As horas são raparigas,
Entram na praça a dançar.
 
As horas são raparigas...
 
E a doce algazarra sua
De rua em rua se ouvia.
De casa em casa, na rua,
Uma janela se abria.
 
As horas são raparigas
Lindas de ouvir e de olhar.
 
As horas cantam cantigas
 
E eu vivo só de momentos,
Sou como as nuvens do céu...
Prendi a rosa dos ventos
Na fita do meu chapéu.
 
Uma por uma, as janelas
Se abriram de par em par.
As horas são raparigas...
Passam na rua a dançar.
 
Janela de minha vida
Aberta de par em par!
 
As horas cantam cantigas
 
E, de novo, sem lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Em tuas mãos distraídas...
 
 
Porto Alegre, 1/1/41


Mário Quintana nasceu a 30 de julho de 1906, em Alegrete, Rio Grande do Sul. Leitor exímio, foi autor de mais de uma centena de traduções, incluindo Honoré de Balzac, Marcel Proust, Virginia Woolf e Graham Greene. Figurou em vários jornais do seu tempo como colunista de cultura. Sua atividade com a literatura inclui a escrita de livros para crianças e de poesia, gênero no qual ficou reconhecido pela publicação de vasta obra, das quais se destacam títulos como: A rua dos cataventos (1940), Caderno H (1973), A vaca e o hipogrifo (1977) e Baú de espantos (1986). Morreu a 5 de maio de 1994, em Porto Alegre. 


“Canção do primeiro ano” foi descoberto por George Augusto, livreiro de Porto Alegre. O manuscrito estava dentro de um livro do poeta adquirido de uma coleção particular (Fonte: G1)

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