I
Talvez a juventude apenas seja isto:
sem arrependimento amar sempre os sentidos.
II
Este corpo que aperto (e me aperta)
tem um sabor de estrelas e de lodo.
E eu não sei quem agora me tinge
(profundíssimo jogo) de vermelho
as estrelas.
III
Era no cinema, onde as portas
se abrem e fecham continuamente.
Àquele rumor ela pensou
que ele voltasse
mas não voltou.
IV
Fazer do verde prado
um jogo proibido.
Já o tenho tentado.
Sem o ter conseguido.
V
“Poeta exclusivo do amor”
me chamaram. E era talvez certo.
Mas o vento aqui sobre a erva e os rumores
da cidade longínqua
não são eles também amor?
Sob nuvens quentes
não são ainda o som
de um amor que arde
e não mais se afasta?
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Sandro Penna nasceu a 12 de junho
de 1906, em Perúgia; uma vez concluído os estudos básicos na escola comercial, foi
para Roma, onde passou quase toda a sua vida. Foi colaborador de algumas revistas
do seu tempo, como Letteratura e Il Fontispizio. Seu primeiro
livro de poemas foi publicado em Florença, Poesie (1939); a estes se
seguiram títulos como Appunti (1950) e Una strana gioia di vivere
(1956), Croce e delizia (1958), Stranezze (1976). Morreu a 21 de
janeiro de 1977.